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sábado, janeiro 28, 2006

ESPECIAL inês de castro

às claras
“D. Pedro, homem de natureza impetuosa e independente, apaixonou-se pela bela Inês, apelidada pelos poetas de ‘colo de garça’. Ela passou a ser a alma gémea que o levou a desprezar as convenções cortesãs e a desafiar frontalmente tudo e todos. E, após a morte de D. Constança por ocasião do parto de seu filho D. Fernando, futuro sucessor de D. Pedro no trono de Portugal, o Infante assumiu, às claras, a ligação existente, indo mesmo viver com ela no Paço da Rainha, em Santa Clara, Coimbra.”

problemas morais e religiosos
“A Corte que permanecia, frequentemente, na cidade do Mondego, não via com agrado as relações entre os dois amorosos. Considerava a ousadia uma afronta. Entendia-se que a ligação era indecorosa pelos problemas morais e religiosos que levantava, bem como do perigo que trazia para o reino em virtude da influência da família dos Castros, que se insinuava junto do Infante. As intrigas do Rei apressavam o monarca a agir. Desta forma, a teia à volta de Inês avolumava-se, apesar de ela viver, despreocupadamente, o seu idílio com Pedro nas bucólicas margens do Mondego.”

na fria manhã
As peças do complicado xadrez iam-se ajustando para o desenlace final. D. Afonso IV compreendia as razões que o impeliam a tomar uma decisão, mas hesitava. Contudo, chegou a hora do veredicto. Reuniu o seu Conselho em Montemor-o-Velho para analisar a atitude a tomar. Entre os conselheiros contavam-se Diogo Lopes Pacheco, Álvaro Gonçalves e Pero Coelho. A reunião constituiu, na prática, um julgamento, em que o acusado não esteve presente. El-Rei decidiu pela execução de Inês. E, na fria manhã de 7 de Janeiro de 1355, quando a neblina do rio ainda não se havia dissipado, o executor régio, aproveitando a ausência do Infante para as suas habituais caçadas, penetrou no passo e ali decapitou ‘aquela que depois de morta foi rainha’.”

chegara a hora
“D. Pedro, ao receber a notícia ficou irado. Quando ascendeu ao trono, com a idade de 37 anos, passados dois sobre a trágica morte, pensou que chegara a hora do ajuste de contas.”

missas e outras cerimónias
“Saciada a sede de vingança, D. Pedro ordenou a transladação do corpo de Inês desde a campa modesta em Coimbra, para um túmulo delicadamente lavrado que mandou colocar no Mosteiro de Alcobaça. O féretro teve honras de algo diferente e majestoso. O caixão saído de Santa Clara, trazido por cavaleiros, foi acompanhado por fidalgos e muita população, clero e donzelas. Ao longo do trajecto homens empenhavam círios que estavam dispostos de tal maneira que sempre o corpo de Inês caminhou por entre círios acesos. No mosteiro celebraram-se muitas missas e outras cerimónias e com grande solenidade o caixão foi depositado no monumento tumular.”

separados pela pedra
“Posteriormente, D. Pedro mandou executar outra arca tumular, semelhante em arte ao da sua amada, colocando-a ao lado e nela quis ficar sepultado. E, até aos dias de hoje, os dois eternos namorados repousam juntos, separados pela pedra mas unidos pelo amor que não tem fim.”

uma dama
“Inês de Castro imortalizada em poemas de espectacular beleza e sensualidade, revivida em numerosos escritores de diversas línguas, enaltecida em composições musicais de rara sonoridade, recriada por pintores, escultores de todo o mundo, continua pródiga em alimentar homens e mulheres das ciências, das letras e das artes. Uma dama que ultrapassou as fronteiras físicas e culturais, que projectou Coimbra, dimensionando o mito criado à volta da sua história, envolvendo a própria cidade, permanece uma aura lendária transportada a outras idades e lugares.”

"Nos Caminhos do Património II", 1995, ps. 126/128, citado em
Hotel Dona Inês