"Há três ideias que estão mais associadas à experiência da cegueira: sofrimento, incapacidade e infortúnio. É, nesta inquirição que se desenha o quadro das condições sócio-culturais e sócio-políticas que, no contexto português, condicionam as realizações e os ensejos das pessoas cegas. Estas e outras frases analíticas inscrevem-se no livro de Bruno Sena Martins, um volume de 278 páginas, que põe a nu e perante os leitores um mundo de inquietação para a maioria dos cegos, que recua a Tirésias, Édipo, Sansão, Jesus e outros. São curiosas heranças históricas da cultura ocidental e oriental, que levaram o autor a mergulhar num tempo longo, onde encontrou os múltiplos significados que historicamente foram sendo associados à experiência de quem é cego. Porque a experiência, como refere, 'povoa os nossos imaginários, ancorados que estão a uma história, como outrora os mendigos cegos povoavam as ruas das cidades'. As pessoas com deficiência, como diz o Bruno, 'têm o estatuto de uma crise silenciosa'."
Diário de Coimbra, "E se eu fosse cego?", 19/11/2006.
Diário de Coimbra, "E se eu fosse cego?", 19/11/2006.